De manhãzinha, D Irene sentiu um forte incômodo. Pressão no peito, suor frio, pulsação alterada, ligeiro desconforto no estômago. Acordou de estalo. Era um sonho mau. Olhou o relógio, quase hora de levantar. E levantou para ir ao banheiro para as abluções matinais. Depois, na cozinha, preparou seu café da manhã. Frugal, como sempre. Desde a morte do marido ela vivia sozinha no apartamento. Aos 75 anos, ainda era forte e despachada o bastante para tomar conta de si.
Lavou a pouca louça, os talheres, arrumou a bolsa e saiu de casa. Iria dar seu passeio costumeiro pelas redondezas. Trancou o apartamento e dirigiu-se ao elevador, apertando o botão. Logo, ele chegou e a porta se abriu. Simplício, o antigo ascensorista, lá estava a postos, roupinha bem passada, o mesmo sorriso simpático nos lábios por baixo do bigode grisalho.
D. Irene se assustou. Espantada, deu um passo para trás e levou as mãos ao rosto.
— Seu Simplício, mas o senhor está morto! Morreu o ano passado...
Ainda com o sorriso cordial, como naqueles anos todos, o velho respondeu, num tom bondoso e compreensivo:
— A senhora também está, D. Irene. Eu vim lhe buscar.
E estendeu a mão, pegando no braço da anciã, conduzindo-a gentilmente para dentro do elevador.
D Irene deixou-se levar, surpresa mas sem reclamar. Simplício apertou um botão com um número de pavimento que não existia naquele edifício. A porta fechou e o elevador subiu. Mais calma, D. Irene perguntou, como costumava fazer naqueles anos todos:
— O que há de novo no prédio?
E Simplício começou a contar as novidades, o elevador subindo, subindo, subindo...
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