quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Lembranças (miniconto)

Aos 60 anos, Lupercínio estava quebrado na vida. Havia perdido a mulher recentemente, não tinha filhos, seu empresa havia falido, levou anos tentando se recuperar. Saudosista, só lhe restaram as suas boas reminiscências da infância. Como não havia mais bens para colocar à venda, resolveu abrir uma loja para vender suas lembranças mais queridas. Alguém haveria de se interessar por elas.

A loja não tinha nada, o mobiliário se resumia a duas poltronas colocadas lado a lado, cada uma virada levemente para outra em posição de conversa. A vitrine era vazia, não havia prateleiras nem armários. As mercadorias, ele as guardava em sua mente. Não se importava em vendê-las porque elas permaneceriam em sua mente.

Lupercínio passava horas na sentado na loja vazia à espera de um comprador. Cumpria rigorosamente o horário comercial. Ninguém apareceu. Depois de algum tempo, desgostoso, resolveu fechar. Já estava ficando velho, iria morrer logo e levaria consigo as suas boas lembranças que não interessavam a ninguém, somente a ele.

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